Os comentários universais para romper o silêncio em inícios de conversas são sobre o clima: – Que calor, hein? Esfriou, né! Que chuva!!! Em tempos de conversas virtuais e graças a nosso idioma, a adaptação para início de conversas é: – Como está o tempo aí? Referindo-se sempre ao clima. Dependendo de quem seja seu interlocutor, esse preâmbulo de amenidades correrá automaticamente até a entrada ao assunto principal de sua reunião. Mas se você convive com pesquisadores, cientistas, ativistas e pessoas minimamente engajadas em questões climáticas, você já está evitando esta pergunta há algum tempo. Já que é impossível comentar o calor, o frio ou a chuva sem entrar em ansiedade climática em 1 minuto. A consciência de que os eventos climáticos atuais são o resultado de séculos de exploração e poluição de nosso habitat sem o mínimo cuidado ou preocupação em conservá-lo para que ele resista à ação humana.
A transformação de nosso modelo econômico por conta dos principais modos de produção e consumo precisa ser o primeiro passo para encarar com seriedade a crise climática que se aproxima. Contudo, transformação requer tempo. E ao ver diversos eventos climáticos extremos espalhados pelo nosso planeta, precisamos nos perguntar se ainda temos esse tempo. Talvez, a necessidade seja de uma mudança radical (aquela que se dá pela raiz mesmo) com tratados internacionais e regionais efetivos, prevendo multas para os países que não fiscalizarem criteriosamente as suas produções industriais e agrícolas.
“A grande diferença que existe do pensamento dos indígenas e do pensamento dos brancos, é que os brancos acham que o ambiente é ‘recurso natural’, como se fosse um almoxarifado onde você vai e tira as coisas, tira as coisas, tira as coisas. Pro pensamento do indígena, se é que existe algum lugar onde você pode transitar por ele, é um lugar que você tem que pisar nele suavemente, andar com cuidado nele, porque ele está cheio de outras presenças.” (Ailton Krenak). A noção de existirmos neste planeta como habitante que Krenak nos lembra é o mesmo senso de coletividade que precisamos reivindicar dos setores públicos e privados das economias e políticas globais. Mas também é o senso de coletividade que devemos nos perguntar se estamos exercendo no tempo que temos. Não no tempo de nossas vidas, nos anos que viemos até aqui e sim no tempo de nosso dia a dia. Você, é você! Consegue afirmar que está “pisando suavemente” em nosso habitat?
Fabiana Muranaka
07/05/2024