Você é uma daquelas pessoas que se incomoda em ver um quadro torto? Em ver vasos simétricos em posições assimétricas? Coisas um pouco fora de lugar, uma porta meio torta, um tênis desamarrado, um botão abotoado diferente, errado. Um quadro na parede meio torto…acho que o quadro é o mais simbólico. Você é dessas pessoas que se incomodam com isso? Tem pessoas que se incomodam demais, que não conseguem ver um quadro torto não importa onde estão, e vão até lá para arrumar ou saem correndo, porque não aguentam ver aquilo. Mas tem pessoas que olham e se incomodam um pouquinho, mas seguem, não é um incômodo tão grande.
Esses foram os pequenos questionamentos que fizemos ao começar a divulgar essa nova coleção, e ao refletir sobre o que escrever para esse texto no blog, perguntei para a Fabi de onde veio a inspiração para a Abitoff e ela disse que,
Quando a inspiração da Abitoff chegou até mim, foi bem em um dia que eu tava indo de um lugar para outro, e na rua eu vi uma garota com uma camiseta muito torta, mas ela tava muito torta! Sabe quando a pessoa sai da cama e veste a roupa? Ela tava meio descabelada ainda, andando com pressa, carregando coisa… já montei toda a história na cabeça, né? E a blusa dela tava muito torta. Sabe quando você nem coloca a blusa direito, a blusa fica torta? E nesse momento eu tive a ideia de que isso daria uma boa no.wasTee. Uma no.wasTee um pouco fora do lugar… provocativa. A gente acaba usando o design zero desperdício para dar uma provocada nas pessoas, para elas pensarem um pouquinho na forma em que nós produzimos hoje. Nós temos um decote quadrado contrariando a normalidade do que a gente acha comum hoje em dia, do que a gente acha normal. A gente tem ali um pequeno detalhe de design questionando o que nós temos de produção, e de repente uma gola fora do lugar pudesse ser uma provocação um pouco maior, para que todas as pessoas na rua vejam que nós propositalmente já estamos querendo incomodar os outros, e incomodar os olhos, incomodar, fazer as pessoas pensarem um pouco… refletirem um pouco. E isso é muito bacana de se refletir nessa semana, que também é a semana do Dia Mundial do Meio Ambiente, né? Porque quando a gente fala em meio ambiente, tem gente que, como uma boa parte de nós, sofre de ansiedade climática mesmo, que fica extremamente preocupado, está o tempo todo pensando em como vai mudar o seu modo de vida para ter a sua contribuição, a sua forma de estar impactando menos em nosso planeta, né? E deixando um rastro menor que não agrida tanto…Mas também tem aquelas que não se incomodam, né? Veem uma queimada, uma enchente, um desmoronamento e simplesmente acham que esse é o ciclo natural da Terra, que crise climática é um exagero de cientistas e que não se incomodam mesmo, passam por cima. E eu acho que uma camiseta como a Abitoff, para provocar um pouquinho mais, fazer a gente se incomodar, de repente o próprio corpo ali, a gente se colocando num lugar diferente, tendo uma manga fora do lugar, diferente da outra, um decote mais “não tão simétrico”, que a nossa imagem, o nosso estilo de moda possa estar levando as pessoas a pensar em outra forma, em questionar o que nós temos agora, né? Mas por que isso, né? Por que estar… fora do lugar? Porque a gente às vezes se sente um pouco fora do lugar ali, poluindo tudo, incomodando tudo? Então, acho que fazer as pessoas pensarem um pouco mais, assim, sem precisar falar…Você chega num lugar e o jeito que você está vestindo vai despertar alguma reação nas outras pessoas. Usar o design zero desperdício nesse lugar de incômodo e nesse espaço de provocação visual, provocação do design e a moda como uma provocação mesmo, eu acho legal. E voltando lá atrás, a garota que eu achei que estava sem tempo… talvez a gente também não tem mais tempo a perder, né? Por isso que a gente usa o design zero desperdício, como uma tentativa de melhorar a nossa situação no planeta, a situação do que vestimos.
Em seguida chamou a Cassi para a conversa com “E aí, o que você pensa?” e ela complementou,
Eu acho que é isso mesmo, que está na hora das pessoas verem as coisas e se incomodarem. Não é apenas você só viver ali do seu jeito e com o meio ambiente, as coisas já evoluíram e o pensamento já evoluiu. Tá na hora de você olhar para as coisas com verdade mesmo, não só ficar vivendo no seu mundo e sem se importar com o que acontece ao seu redor, pois o benefício é o próprio “vivermos”. Acho que é a hora de se incomodar com o que está fora do lugar, como um todo e fazer alguma coisa. A Abitoff está fora do lugar, mas ela está no lugar certo, porque ela é uma das heroínas da razão.
E a reflexão, a ideia de chamar todos para esse movimento…é a coisa do coletivo, né? Tanto que no Zero Desperdício a gente não tem o molde de uma camiseta, a gente tem o molde de várias camisetas juntas. Porque nada é sozinho, né? A gente não está sozinho aqui, não tem como viver nesse planeta sozinho. A gente tem que viver com os outros, tem que pensar no coletivo, tem que ser tudo uma construção coletiva. E por isso reforçamos o convite, venha fazer parte desse movimento, não temos tempo a perder.
Giovanna Wangham, Fabiana Muranaka e Cassiana Portes
06/06/2024